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Aurora Campos

Eleições no Brasil: O que está em jogo?

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26 Outubro 2022

B

rasil: a terra do samba, do Carnaval, da praia e do futebol. É esta a ideia geral que o resto do mundo tem do país. Contudo, se esta ideia nunca correspondeu à verdade, uma eleição

como a de 2022, marcada essencialmente pela violência política, afasta ainda mais tal conceção da realidade.

No próximo dia 30 de outubro, os brasileiros retornam às urnas para finalmente decidir quem será o próximo Presidente da República: Jair Messias Bolsonaro ou Luiz Inácio Lula da Silva.

Se, por um lado, em 2018, Jair Bolsonaro conseguiu quebrar a polarização que existia, até então, entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido da Social Democracia Brasileira, optando por um discurso centrado em temas sensíveis à população brasileira. A título de exemplo, foram abordados o combate à corrupção, a segurança, a proteção da família e a religião. Por outro lado, agora em 2022, Bolsonaro, a fim de conseguir a – por si – tão desejada reeleição, decide novamente apostar nestes assuntos, juntando à sua campanha fortes críticas ao atual sistema eleitoral brasileiro. Desta forma, retornou a suprarreferida situação de polarização marcada, desta vez, pelo anti-bolsonarismo e pelo anti-petismo.

Apenas quatro dias antes da primeira volta das eleições presidenciais, o partido de Bolsonaro - Partido Liberal - lançou um relatório a invocar a fragilidade das urnas, que poderia ter como consequência possíveis invasões internas ou externas nos sistemas eleitorais. O próprio Presidente, num discurso realizado em setembro deste ano na embaixada brasileira, em Londres,  afirmou que se a derrota na primeira volta das eleições se deveria a “algo de anormal”, que estaria então a acontecer dentro do Tribunal Superior Eleitoral.

Olhando para as futuras eleições e para as ameaças ao sistema eleitoral proferidas pelo PR, parece ser possível estabelecer uma ligação de semelhança entre estas e as eleições legislativas que ocorreram em Portugal no final de janeiro deste ano, cujo resultado não agradou uma parte significativa da população portuguesa.  Todavia, não existiu, nas eleições portuguesas, um discurso por parte, quer dos eleitores, quer dos líderes partidários, a tentar descredibilizar o sistema eleitoral. O resultado eleitoral foi respeitado. Em contrapartida, no Brasil, Jair Bolsonaro recorre à mesma tática usada por Donald Trump nas eleições americanas de 2020. O atual presidente – Bolsonaro – acaba por tentar criar uma narrativa que deslegitima o processo eleitoral, procurando justificações para poder contornar o resultado das eleições, na eventualidade de uma derrota. No fundo, procura-se  uma invasão ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal e um possível golpe de Estado, levado a cabo pelos apoiantes do atual PR.

A discussão que marca o atual cenário político brasileiro concentra-se na defesa do estado de direito democrático e das instituições democráticas que, com uma possível reeleição de Jair Bolsonaro, estão ameaçadas. Não estamos perante a clássica dicotomia entre esquerda e direita, habitual no Brasil, bem como no restante mundo ocidental, tratando-se agora de uma questão de preservação da democracia. Este aspeto reflete-se no manifesto lançado pelos economistas das principais instituições de ensino privadas nesse campo, pelos criadores do Plano Real e no apoio de importantes figuras políticas como Fernando Henrique Cardoso e João Amoedo, um dos maiores críticos aos governos petistas, que manifestaram apoio ao candidato Lula, não por se identificarem pelos seus ideais, mas pelo risco que a reeleição do atual presidente representa.

É inegável que Lula é uma figura política muito controversa, sendo que transmitir a imagem de Lula como um “santo” é uma falácia.   Porém, nos últimos quatros anos, o governo de Bolsonaro representou um retrocesso na sociedade brasileira e trouxe uma perversidade que antes estava escondida, que se traduziu na subvalorização da pandemia, que resultou na morte de quase 700 mil brasileiros, na volta do Brasil ao mapa da fome, assim como em diversas atitudes de Bolsonaro. 

Viver no Brasil, sobretudo na altura das eleições é viver bombardeado por informação constante, muita desta não verdadeira, observando-se um profundo esvaziamento no debate político e uma sociedade cada vez mais dividida. A imagem que que tem fora tem do Brasil nunca correspondeu à realidade, nomeadamente um país pautado pelo medo, pela violência, pela intolerância. Como já dizia Darcy Ribeiro, “Tenho tão nítido o Brasil que pode ser e há de ser, que me dói o Brasil que é”, palavras em que eu, mais que nunca, me revejo.

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