

Teresa Sá Carneiro
Erasmus em tempo de Covid-19
Entrevista a Afonso Santos e Maria Miguel Rios

26 Janeiro 2021
ive recentemente a oportunidade de entrevistar dois alunos da Faculdade de Direito da UCP Porto que estão, apesar das circunstâncias que vivemos, a participar no programa ERASMUS:
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Afonso Santos e Maria Miguel Rios são ambos alunos do quarto ano de licenciatura e estudam agora na Università Degli Studi Di Milano em Milão, Itália.
Será de salientar o seu impressionante percurso académico: Afonso é vice-presidente encarregue de seminários e conferências da ELSA Portugal, Assistant for ELSA Webinars, na Equipa da ELSA International e ainda Mentor de Direito da União Europeia. Já Maria Miguel é membro do Departamento de Marketing da Sociedade de Debates (SdDCP) e voluntária da CASO.
Assim, convido-vos a conhecerem os desafios, adversidades e maravilhas do programa Erasmus.

Estão a gostar da experiência?
MM: Acho que consigo responder pelos dois ao dizer que esta experiência está a ser única; abriu-nos novos horizontes, tanto em termos educacionais como culturais.
O Afonso concordou e acrescentou ainda: "estamos a conviver com diversas culturas, o que é ideal para promover a diversidade cultural e o enriquecimento próprio".
Por que é que escolheram Milão?
MM: Itália foi a minha segunda opção, mas fiquei feliz com o destino. Sabia que mais tarde, por muitas pessoas terem cancelado, iria ter a oportunidade de alterar o mesmo, mas sempre tive imensa curiosidade em experienciar a vida italiana, a sua rica cultura. Para além do mais, escolhi Milão pois a universidade é muito prestigiada, sendo a segunda melhor do país, e o programa apelou-me bastante.
AS: Sinceramente, foi mais um processo de exclusão de partes: não me imaginava a viver no norte da Europa e, mesmo no Sul, por exemplo na Grécia, as ofertas curriculares eram limitadas, especialmente em inglês. Como Itália é o meu país preferido e a universidade tinha várias cadeiras nesta língua (bastante diversificadas e interessantes), foi uma escolha fácil.
Sentiram dificuldade a integrar-se quando iniciaram o programa?
MM: Não, Itália não é um país assim tão diferente de Portugal; se a língua fosse muito diferente seria mais difícil, mas para além de esta ser semelhante, as pessoas também o são em termos culturais. Contudo, no programa Erasmus, não convivemos tanto com pessoas italianas, estamos numa residência e temos as aulas em inglês, pelo que acabamos por conhecer mais pessoas de outros países que, como nós, estão a tentar adaptar-se.
AS: Foi relativamente fácil adaptarmo-nos, por estarmos na residência. Encontramos rapidamente pessoas com quem falar, muitas das quais que, como estavam em Erasmus, também queriam conhecer pessoas novas e realizar atividades em conjunto. Mesmo os italianos que vivem na residência são de outras cidades e estão à procura de criar amizades.

No contexto em que vivemos atualmente, sentem que perderam alguma experiência em virtude do Covid-19?
AS: Houve experiências que o coronavírus impossibilitou e que talvez nos ajudassem no processo de integração, como as festas académicas. Para além disso, não tivemos a oportunidade de viajar, o que era um dos nossos planos. Na verdade, no início do semestre, podíamos fazer viagens e sair à noite, o que a determinada altura deixou de poder acontecer, mas há outras maneiras de nos integrarmos sem precisarmos.
MM: Posso dizer o mesmo. Claro que afetou algumas coisas, como as aulas que passaram a ser, na sua maioria, on-line. As aulas presenciais criavam a oportunidade de estar com mais pessoas, de conhecer a universidade. Contudo, como não estamos num apartamento só nós os dois, mas sim numa residência, temos a possibilidade de ver e conviver com outras pessoas todos os dias.
O que vos fez não desistir do programa ERASMUS quando a maioria dos alunos, perante esta situação, optou por não sair do país?
MM: Quisemos arriscar na mesma porque tanto eu como o Afonso temos muito interesse em áreas de Direito Internacional e apostamos sempre em ir visitar novos países e conhecer pessoas diferentes, pelo que acho que foi isso que nos levou a continuar no programa. Queríamos, acima de tudo, explorar realidades novas.
AS: Desde que comecei o curso que quero muito fazer Erasmus, por isso não era opção desistir.
Que diferenças consideram assinaláveis entre o ensino italiano e o ensino português?
MM: Em primeiro lugar, estamos a fazer as cadeiras em inglês, por isso não sentimos um contraste muito grande, visto que ambos já tínhamos feito na Católica o internacional law program, pelo que estávamos habituados a este conceito. Em relação às cadeiras de Direito, não sinto muita diferença porque são de Direito Internacional. Contudo, o regime de avaliação é, sem dúvida, diferente: a escala é de 0-30, algo a que não estamos habituados. De resto, sinto que os professores são igualmente empenhados em fazer com que cumpramos os nossos objetivos. Sem dúvida que os métodos de aprendizagem são excelentes - mesmo quando mudamos para o sistema on-line, foram fornecidos todos os materiais que necessitávamos. Mais, temos algumas cadeiras que temos exame, mas em geral podemos fazê-las por contínua (caso esta seja positiva) mas, de resto, acho que o sistema é muito semelhante ao português.
AS: Exatamente, nós não estamos a estudar o ordenamento jurídico italiano em específico, estamos focados em Direito Internacional, portanto, o regime de avaliação e o método de exposição das aulas é diferente, mas apenas por estarmos numa vertente mais internacional, pelo que a nossa avaliação tende a ser mais interativa, com moot courts, apresentações e papers. É também de referir que, em vez de exames, em muitas cadeiras, vamos ter entrevistas orais. Sou capaz de dizer que é mais prático do que na Católica. Muitas vezes, nas aulas, fazem-nos questões diretamente – quase como se se tratasse de uma sabatina, mas constante.

Apesar de ainda estarem longe do fim do programa Erasmus, que competências e capacidades consideram ter adquirido até agora, tanto a nível profissional como pessoal?
MM: Em primeiro lugar, temos obrigatoriamente de referir que aprendemos um pouco da língua espanhola e italiana, através de idas ao supermercado e até mesmo a pedir direções na rua. O nosso inglês também melhorou significativamente, visto que é nessa língua que falamos com os nossos colegas de turma, professores e ainda com as pessoas que também vivem na residência. Sinto que ganhamos mais capacidade para ultrapassar obstáculos, uma vez que que colhemos certas ferramentas que, no caso concreto, não serão essenciais para o mundo do trabalho, mas que irão ser certamente aplicadas no ao dia-a-dia.
AS: Concordo totalmente e considero também que a falta de apoio familiar, como temos em Portugal, fez com que nos tornássemos menos dependentes de outras pessoas (nomeadamente dos nossos pais) em todos os aspetos. Noto que estou cada vez mais prático e mais “desenrascado”, como se costuma dizer.
Como estão a conciliar a vossa presença associativa com o Erasmus?
MM: Considero que esta conciliação tem corrido bem, apesar de algumas vezes ser complicado, principalmente pela pouca (mas existente) diferença de horários. No outro dia tive uma reunião da Sociedade de Debates e um jantar planeado, pelo que só pude estar presente numa parte da mesma, mas o resto da equipa manteve-me a par e considero que sim, é perfeitamente possível conciliar. Também, por causa do coronavírus, as nossas reuniões são on-line, o que cria a oportunidade para trabalharmos, realmente, como se tivéssemos em casa.
AS: Um fator que complica mais é que, no associativismo, se costumam realizar muitas reuniões à noite, porque durante o dia é mais complicado conciliar os horários de todos: uma reunião que seria às 21:30 em Portugal, é às 22:30 em Itália. Isto torna a tarefa de conciliar o associativismo com a diversão mais complicada. Por outro lado, o Covid-19 ajudou a sentir que estamos tão perto deles como eles estão uns dos outros.
