

Prof. Dr. Manuel Fontaine
Uma paixão inesperada

31 Janeiro 2021
N
o já longínquo ano de 1990, encontrava-me a frequentar o 11º ano, na Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, em frente ao Estádio do Bessa. Estava inscrito na área então chamada
de "Científico-Tecnológicas". Para além das disciplinas específicas da área, como Matemática e Físico-Química, tinha escolhido a opcional de Eletrónica.
Como bem se vê, nada permitia antecipar que viesse a frequentar o curso de Direito.
E, no entanto, estava já nessa altura desiludido com a opção que havia feito no 10º ano. Queria fazer o curso universitário de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, mas tive o azar de ter péssimos (embora bem intencionados) professores em Eletrónica. Talvez por isso, percebi que, afinal, não queria ser engenheiro.
Embora tivesse boas notas a todas as disciplinas, aquelas de que mais gostava eram Português (adorava literatura) e Filosofia (estava fascinado com as teorias dos filósofos).
No entanto, rapidamente afastei a hipótese de ir para Letras, essencialmente porque não via futuro profissional nessa escolha.
Não sabia bem o que fazer. E, na verdade, ainda tinha de frequentar e concluir o 12º ano.
Nesse Verão, soube que a Universidade Católica organizara um concurso de preparação para os exames de acesso ao curso de Direito. É que, nessa altura, a Católica ainda oferecia um "Ano Zero", que subsituía o 12º ano e permitia que se iniciasse imediatamente a licenciatura. Pensei: "Porque não? Trata-se de um curso de ciências sociais e humanas e as saídas profissionais são interessantes...".
Inscrevi-me no curso de preparação, realizei os exames (nessa altura, a Católica realizava os seus próprios exames de acesso) e entrei no Ano Zero.
O Ano Zero era estranho: ainda frequentava disciplinas do secundário, mas já estava na universidade (tinha inclusivamente passado pela praxe). Já tinha vida de universitário (com 16 anos!) mas ainda não tinha cadeiras universitárias.
O 1ª ano foi completamente diferente: aí experimentei verdadeiramente o que era um curso universitário e o que era um curso de Direito. Fiquei imediatamente apaixonado por Direito.
Pensei muitas vezes na "sorte" que tive em calhar no curso da minha vida, quando a escolha foi tão pouco ponderada e tão repentina.
O que não imaginava é que continuaria na UCP mesmo acabado o curso. Primeiro como estudante, e depois como docente, encontro-me na Universidade Católica desde há 30 anos.
Como se pode ver, foi, não apenas o curso da minha vida, mas a universidade da minha vida, que nunca mais deixei!